segunda-feira, novembro 05, 2007

Turismo vs. Biodiversidade

O turismo é, à falta de qualquer outra capaz de tal função, a actividade económica que sustenta a nossa economia. Portugal, este “cantinho à beira-mar plantado”, de onde partiram “As armas e os barões assinalados” para darem “novos mundos ao mundo” têm uma localização privilegiada no extremo sudoeste da Europa. A nossa costa com uma extensão considerável, é ponto de referência para muitos turistas que, ao longo de todo o ano, preferem o clima temperado português aos seus climas natais. Sobretudo a zona do Algarve é caracterizada por condições únicas de clima que fazem dela um ponto de referência no turismo Europeu e mundial. É exactamente no Algarve que se localiza uma zona de extremo interesse ao nível da biodiversidade. Um pouco por toda a costa, espécies da fauna e flora portuguesas com interesse ao nível da conservação têm os seus habitats. Apesar de, geograficamente, o mar mediterrâneo não banhar o território Português, o Algarve sofre a sua influência climática tal como sofre a influência do Atlântico e do continente, razão pela qual o clima algarvio é tão peculiar. Nesta zona do Sul da Europa, desde o Algarve à Turquia, mais de 600 espécies de peixes habitam o mar e muitas espécies de mamíferos, aves e plantas bem como de insectos, povoam as terras envolventes. Um exemplo de espécie que interessa proteger no mediterrâneo é a Foca Monge do Mediterrâneo. Depois de a Foca Monge das Caraíbas ter sido declarada extinta em 1996, houve especial interesse em proteger os parentes mais próximos – focas monge do mediterrâneo e do Hawai.
No caso concreto da nossa costa algarvia, espécies com interesse para conservação são, por exemplo, os mamíferos: musaranho (Crocidura russula), gineta (Genetta genetta), lontra (Lutra lutra), fuinha (Martes foina), raposa (Vulves vulves); as aves: mergulhão-de-crista (Podiceps cristatus), galinha-sultana (Porphyrio porfyrio) cegonha preta (Ciconia nigra), andorinha-do-mar-anã (Sterna albifrons) o maçarico-de-bico-direito (Limosa limosa); os peixes: dourada (Sparus aurata) ou o sargo (Diclodus sargus); os répteis: cágado-de-caparaça-estriada (Emys orbicularis), camaleão (Chamaleo chamaleon), cobra-cega (Blanus cireneus), cobra-de-capuz (Macroprotodon cucullatus), lagartixa-do-mato-ibérica (Psammodromus hispanicus) ou víbora-cornuda (Vipera latastei); os anfíbios como o sapo-parteiro-ibérico (Alytes cistemasii) ou o tritão-de-ventre-laranja (Triturus boscai); as plantas como o zambujo (Olea europea), o medronheiro (Arbutus unedo) o rosmaninho (Lavancula pedunculata lusitanica) ou a erva-ursa (Thymus lotocephalus). Estas são apenas algumas razões para proteger o nosso litoral.
Chegámos a um ponto em que as duas coisas, com os ritmos de desenvolvimento actuais, não são possíveis em comum. E, como o ritmo de crescimento imobiliário e turístico é sempre baixo, estamos a caminhar para situação de total insustentabilidade ponto em causa a preservação das espécies autóctones muitas delas endémicas da península ibérica. Os principais factores que põem em risco o desenvolvimento saudável das espécies que habitam o litoral algarvio são o elevado crescimento urbano sobre a linha de costa com a toda a pressão por ele exercida sobre a costa e o segundo factor é quantidade de resíduos e perturbações ao ambiente natural que ocorrem permanentemente nas regiões turísticas, como é o caso do Algarve. O litoral algarvio já está suficientemente sobreexplorado, não sendo sustentável que todos os anos sejam construídos milhares de novos apartamentos e outros empreendimentos imobiliários e hoteleiros cujo impacto sobre o litoral é, claramente, devastador.
O Algarve é pequeno de mais para a nossa sede de dinheiro, para os nossos hábitos consumistas e para as espécies que lá habitam poderem viver bem. Só que elas chegaram lá antes de nós…
Por outro lado a dependência de uma actividade – o turismo – e, ainda pior, de uma região não são saudáveis para a economia portuguesa. Devemos virar-nos para outras regiões e começar a explorá-las tendo em vista o seu potencial turístico e tendo também em conta a sustentabilidade da exploração.

Sem comentários: