terça-feira, outubro 16, 2007

As preocupações e perspectivas ambientalistas dos estudantes do ensino secundário do Colégio Valsassina

Os problemas ambientais estão hoje naturalmente presentes no nosso quotidiano. Habituámo-nos a ver uma secção sobre ambiente nos jornais e revistas, a assistir a notícias sobre protestos ambientais nos noticiários, e a ser alvos de campanhas de informação e sensibilização para melhorar o ambiente. É hoje para nós pacificamente aceite que a poluição das águas ou do ar é preocupante, ou que é uma causa nobre contribuir para que não se extingam espécies selvagens.
Mas, tendo em conta que os problemas ecológicos são, na sua essência, problemas éticos e morais torna-se fundamental conhecer os valores e atitudes que lhe estão associados e que estarão na base do comportamento de cada indivíduo (Almeida, 2007).
Assim, numa altura em que o Projecto EcoValsassina faz 5 anos pretendemos desenvolver, ao longo do ano lectivo, um processo de avaliação global: das estratégias, dos recursos e dos resultados obtidos.
Numa primeira fase, entre1 e 15 de Outubro, propusemo-nos em conhecer quais as principais atitudes de atenção e de preocupação sobre o ambiente; averiguar o nível de aquisição de competências necessárias para desenvolver análises críticas, resolver problemas e, identificar o nível de capacidade para a acção; e conhecer as principais perspectivas ambientais existentes num grupo de estudantes do ensino secundário.
A opção por alunos do secundário relaciona-se com o facto de, tendo o projecto 5 anos, neste momento todos os alunos do 11º e 12º ano têm sido envolvidos directa, ou indirectamente, desde o início.
Mas qual é a importância de tal conhecimento? Podemos apresentar várias respostas a esta questão. Por um lado, numa época marcada profundamente pela crise ambiental torna-se importante conhecer a forma como os cidadãos se preocupam e relacionam com a natureza e, se necessário, criar as bases para se desencadear um processo de desconstrução da cultura antropocêntrica, conduzindo assim ao regresso da relação humana com a natureza.
Outra possível resposta está na cultura. Hannigan (1995) destaca o livro «Risk and Culture» de Aaron Wildavsky onde são colocadas duas perguntas simples, mas fundamentais. Por que razão as pessoas realçam alguns riscos e ignoram outros? E, mais especificamente, porque razão muitas pessoas na nossa sociedade escolheram a poluição como uma fonte de preocupação? Segundo o autor, as respostas estão enraizadas na cultura.
A cultura refere-se aos modos de vida dos membros de uma sociedade, ou de grupos dessa sociedade. A cultura de uma sociedade, ou grupo, engloba tanto os aspectos intangíveis, as crenças, as ideias e os valores que constituem o teor da cultura, como os aspectos tangíveis, os objectos, os símbolos ou a tecnologia que representam esse conteúdo (Giddens, 2007).
Verificamos assim que a cultura é algo que não pode ser visualizada, observada ou saboreada. Para Gonçalves (in Beckert, 2001) a cultura é uma acção complexa, na qual entram as coisas, os valores, as ideias, as palavras, os sentimentos, os sonhos, etc.
A cultura é um contexto abstracto, sendo que nos apercebemos da sua existência através da sua manifestação (em comportamentos, atitudes, entre outros aspectos) em diversas situações. É de certa forma, um conceito teórico que nos ajuda a compreender os nossos comportamentos e que explica as diferenças entre diferentes grupos de pessoas.
Por sua vez, a noção de «cultura ambiental» remete não só para a interiorização de um conjunto de informações e conhecimentos básicos sobre questões de ambiente mas também para a adopção ou predisposição para a adoptar no quotidiano uma série de comportamentos ditos «amigos do ambiente» e que se traduzem em práticas simples e relativamente estabilizadas ou em vias de estabilização nas sociedades modernas.

Bibliografia:
Almeida, A. 2007. Educação Ambiental. Livros horizonte.205 pp.
Beckert, C. 2001. Natureza e Ambiente: Representações na cultura portuguesa. Centro de filosofia da Universidade de Lisboa. 206 pp.
Giddens, A. 2007. Sociologia. Fundação Calouste Gulbenkian. 5ª ed. 725 pp.
Hannigan, J. A. 1995. Sociologia Ambiental. Instituto Piaget. 271 pp.

João Gomes

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