A Comissão Nacional da UNESCO, escolheu o tema Água e Património para a edição de 2013 do Prémio Criatividade e Inovação, destinado aos alunos das escolas portuguesas do Sistema das Escolas Associadas (SEA) da UNESCO.
Na categoria do 3º ciclo os alunos tinham como desafio elaborar um texto tendo por base o tema "Se conservarmos a água, preservaremos a vida na terra".
A aluna Ana Luís, do 8ºC, foi a grande vencedora desta edição do concurso.
Publicamos aqui o trabalho agora distinguido.
Querida Terra, República
Dominicana, 1 de Janeiro de 2013
És enorme albergando continentes e oceanos e
eu sou apenas uma pequena e gota de água que viaja pelos teus charcos,
ribeiros, rios, mares e oceanos.
És enorme, poderosa e cheia de
energia provocando erupções vulcânicas, tsunamis, sismos e tempestades que
originam a destruição numa fração de segundos e eu mal uma formiga consigo
molhar. És enorme e em ti nascem, crescem e morrem milhões de espécies de seres
vivos e eu apenas sirvo de lar para alguns microrganismos. És enorme e por isso
és a única que podes ajudar.
Posso não ser tão grande e poderosa como tu,
no entanto já viajei, vi e conheci muitas coisas, umas boas e outras más, o que
fez de mim uma gota muita culta.
Escrevo-te para te alertar de algo
que me preocupa e que, apesar de ter a certeza que já sabes, decidi tomar a
liberdade de te descrever as proporções que está a atingir. Certamente prevês
que o problema de que te vou falar é a falta de água potável.
A água é um recurso indispensável
para todos os seres vivos e por isso é muito importante preservá-la. Todavia, a
maior parte dos humanos que te habita não a preservou, limitando-se a gastá-la e
a poluí-la e, por isso, atualmente uma em cada seis pessoas no mundo tem acesso
difícil à água: 1100 milhões de pessoas não têm acesso a água potável e 2600
milhões a saneamento básico.
Numa das minhas viagens encontrava-me
a repousar no oceano Atlântico perto da costa ocidental Africana, quando surge
uma vaga de calor que me evaporou.
Umas semanas mais tarde já tinha entrado na
Somália e finalmente a nuvem largou-me. Caí num pequeno lago cercado por um
solo árido. Olhei em volta e fiquei chocada. Nem queria acreditar no que via.
Vários adultos e crianças desidratados ocorriam ao pequeno lago onde me situava
e procuravam beber e guardar o máximo de água possível. Compreendi que tinham
pouco acesso a esta, pois ou raramente chovia ou a água que havia era
facilmente evaporada, graças às elevadas temperaturas. Achei a situação muito
preocupante, pois ter acesso a água potável é um direito que pertence a todos
nós.
Passaram dois dias e rapidamente fui
evaporada deixando para trás um cenário de desespero e miséria.
Umas semanas mais tarde, acabei por cair
sobre a forma de neve no Canadá, mais precisamente na cidade de Vancouver. É
uma cidade populosa e desenvolvida, tal como a maior parte das cidades canadianas,
onde o tema da falta de água potável é pouco discutido. Afinal, o Canadá é um
dos maiores detentores de água potável do planeta. Aqui uma pessoa pode gastar
diariamente 600 litros de água, enquanto uma família na Somália, muitas vezes,
apenas tem acesso a cerca 10 litros (ou muito menos do que isso) para beber,
cozinhar, fazer a higiene básica, irrigar plantações e sustentar rebanhos ou
outros animais.
Fiquei sem palavras. Sentia-me desiludida,
impotente, triste, só… Um ano passou e mais uma vez eu parti. Estou na
República Dominicana, deitada numa folha de uma palmeira. Estou a pensar e a
refletir em tudo aquilo que descobri, vi e conheci ao longo dos tempos. Tens
que fazer perceber aos homens que eles têm que mudar.
Usa o teu “poder” se necessário, mas acima de
tudo diz-lhes: somos um e por isso vamos lutar como um só para proteger aquilo
que temos de mais precioso a que chamamos: ÁGUA.
Despeço-me com amor,
Gutilde
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