Resolvi escrever “alguma coisa” sobre a Final Nacional das XI Olimpíadas do Ambiente. Não sei bem porquê, mas talvez seja porque o que sinto é demasiado grande para conseguir guardar só para mim.
Quando soube que tinha sido apurada para a Final, no dia 27 de Abril, desatei aos pulos, berrei, nem sei mais o que é que fiz. Apesar de para alguns (ou talvez para a maioria) as duas eliminatórias terem sido encaradas como apenas um pretexto para fazer qualquer coisa menos habitual no tempo de aulas, para mim foi desde logo muito mais do que isso. Queria superar-me a mim própria e obter o melhor resultado possível numa prova que tem como objectivo sensibilizar os jovens para um tema que me interesssa muito. E, claro, a Final sempre foi um sonho que eu sinceramente tinha pouca esperança em poder alcançar.
Depois de algumas sessões e conferências de preparação com a preciosa ajuda do professor João Gomes, chegou o tão esperado dia da partida para Santo Tirso, local da realização da Final Nacional da edição deste ano das Olimpíadas do Ambiente.
A Filipa, o Guilherme, o Pedro, o João e eu (a maior comitiva da Final) saímos do Colégio por volta do meio dia e meia e seguimos até à estação do Oriente, onde apanhámos o comboio rumo a Porto/Campanhã. A viagem foi um bocadinho demorada e cansativa mas deu para conversarmos e para lermos alguma informação que nos fizesse sentir melhor preparados para a Final. Quando chegámos à capital do norte, estavam à nossa espera pessoas da organização que nos acompanharam e a mais cinco colegas de comboio até Santo Tirso.
Chegámos à Escola Profissional Agrícola Conde de S. Bento por volta das 18h30 e fomos apresentados à cerca de uma dezena de colegas que já lá se encontravam. Conhecemos as enormes instalações da escola, passeámos pelo jardim e o resto da tarde foi passada sentados na relva, assistindo à chegada dos nossos colegas e travando os primeiros conhecimentos, enquanto a Filipa e o Guilherme murmuravam entre dentes que queriam voltar para casa. Foi bastante estranho este primeiro contacto com os alunos das outras escolas. Acho que foi o facto de estarmos a conhecer pessoas que vivem em locais muito diferentes da capital e que têm modos de vida que têm pouco a ver com os nossos. É difícil compreendermos que jovens da nossa idade possam ter hábitos tão diferentes, preocupações tão diferentes e ao mesmo tempo tão idênticas, já que todos ali estávamos pela mesma causa: o Ambiente. Mas esse primeiro dia foi também altura para me começar a sentir pequena e insignificante já que estava rodeada de pessoas tão inteligentes, que sabem tanto, e com tanto para dar e mostrar.
O jantar (rissóis com arroz, o mesmo que tinha comido ao almoço no Colégio... eu nem queria acreditar!) decorreu já em “amena cavaqueira”, uma vez que já começávamos a conhecermo-nos. A noite foi reservada para a apresentação do programa da final e para um jogo de convívio. Apesar de já estarmos todos bastante cansados e a suspirar por uma cama, o serão acabou por ser muito bem passado.
Quando chegou a hora do descanso dividimo-nos, já que metade dos rapazes ficaram a pernoitar nas instalações da EPACSB, enquanto todas as raparigas e a outra metade dos rapazes foram para a Residência para Estudantes da DREN (Direcção Regional de Educação do Norte).
A distribuição dos quartos foi bastante rápida e quando chegámos aos nossos aposentos foi “tiro e queda”, tal tinha sido o desgaste de um dia de viagem. A noite foi demasiado curta para ser bem aproveitada porque a alvorada estava marcada para as 6h45.
Partimos então para um dia que se adivinhava longo e cansativo, mas que se viria a tornar muito compensador e com certeza inesquecível.
Ainda meios ensonados lá saímos de farnel em punho, prontos para um dia na montanha. Andámos 27 quilómetros! Sim, 27 quilómetros! 7 dos quais foram feitos literalmente pelo meio do mato. Aquilo nem sequer eram caminhos de cabras!
Mas eu não me consigo queixar. Foi na caminhada que se começaram a estabelecer os grandes laços, alguns que sinto que vão perdurar. Ah, é verdade! Mais ou menos por esta altura, a Filipa e o Gui já se tinham rendido. Estava a ser realmente uma experiência incrível.
Conversei com muita gente e a ideia de que faço parte de uma “geração para mudar o mundo” (o slogan das Olimpíadas) fez realmente sentido. Descobri pessoas equilibradas, com opiniões válidas, com vontade de construir um futuro que valha a pena, muito inteligentes e com tanto para ensinar! Se alguém disse que a juventude está perdida, enganou-se redondamente.
Claro que, a pouco e pouco, me fui identificando mais com uns do que com outros e foi na hora destinada ao almoço e a algum descanso que verdadeiramente conheci aquelas pessoas que me marcaram mais. O Luís (Matosinhos), o Manel (Golegã), o Roberto (S. João da Pesqueira), o João (Odivelas), a Patrícia (Arraiolos) e tantos outros...
O caminho de regresso foi consagrado ao “paleio”. Deu também para relembrar como é fantástico respirar o ar da montanha, olhar os pássaros nos olhos, matarmos a sede com a água límpida das nascentes que aqui e ali enfeitavam a serra. E passámos também por algumas áreas que arderam no Verão passado. Como é possível que se deixe desaparecer uma paisagem tão bonita, um património que é cada vez mais raro? Como é que se pode trocar o verde da vida pelo cinzento da perda?
Regressámos “de rastos” à residência onde nos esperava uma corrida desesperada para o primeiro lugar na fila para o tão ansiado duche. Soube muito bem porque tínhamos terra nos pés, nas mãos, nos braços, na cara... E para lavar a terra que eventualmente tivéssemos no cérebro, uma vez que estava a chegar a altura de pôr o intelecto a funcionar.
E lá estávamos nós, a seguir ao jantarinho onde nos informaram que teríamos no dia seguinte de votar no “ambientalista mais convicto” e no “ambientalista mais colunável”, a aguardar pela tão aclamada prova oral em grupo. Enquanto todos desejavam a melhor sorte uns aos outros depois da frenética dança para arranjar companheiros para o grupo, eu abria os braços para o céu e berrava a plenos pulmões “Quero a minha mãe! Quero a santa terrinha! Tirem-me daqui!”. Pois é... Admito que o meu relato possa estar um bocadinho exagerado mas eu estava efectivamente desejosa de sair dali. Já sabia que ia fazer aquele teste há uma série de tempo, mas naquele momento em que ele estava eminente não me sentia preparada para essa prova de fogo. Sim, porque sabíamos que a prova oral é aquela em que nos mostramos e em que a maneira como vivemos estes temas pode fazer a diferença.
Fomos para o salão nobre da EPACSB e separámo-nos por grupos. Eu fiquei com o João Amaral e mais três rapazes (um de Bragança, um de Viseu, se não me engano, e o outro de S. Miguel). Foi-nos dado o tema que teríamos de abordar da maneira que preferíssemos: energia nuclear. Delineámos a nossa apresentação e chegou a hora de a expormos.
Cheguei lá à frente. Tinha resolvido não levar nenhuma folha com notas para não correr o risco de cair na tentação de ler e... falei, falei, falei, blá, blá, blá, blá, b l á, b l á...
Saí daquela sala 20 quilos mais leve, sem exagero. Naquela altura, quando me perguntavam como tinha corrido eu só sabia dizer que tinha sido estranho. E continuo incapaz de atribuir qualquer outro adjectivo aos minutos que a prova durou.
Finalmente a noite era nossa e queríamos aproveitar o último serão que estávamos todos juntos. E foi muito bem aproveitado. Apesar do cansaço físico, culpa da longa caminhada, e também psicológico, culpa da primeira avaliação e de tantas emoções vividas em tão pouco tempo, ficámos na sala de convívio da residência até “às tantas”. Com guitarradas em fundo e com vozes alegres (umas mais afinadas que outras, mas todas empenhadas, sem dúvida) sentíamos que começávamos a queimar os “últimos cartuchos” e, como tive oportunidade de partilhar com alguns, já sentíamos saudades, mesmo quando ainda ali estávamos, todos juntos e muito divertidos.
Quanto ao reportório, esse, deu para agradar a todos. Começou nos Xutos, passou pelo fado, entre outros, e foi acabar no Tony Carreira e no Quim Barreiros, quando já começava a faltar a imaginação aos poucos resistentes na sala, já que “Os Patinhos” já tinham tocado para a maioria...
As curtas horas que dormimos souberam a pouco mas era preciso acordar às 7h15, porque nos esperava uma manhã bastante preenchida: prova escrita e feira de experiências.
Acho que já acordámos cansados, mas mesmo assim decididos aproveitar os últimos momentos daquela experiência de cujo fascínio já ninguém ousava duvidar.
A prova escrita começou por volta das 10 da manhã. Tenho de admitir que as 50 questões de escolha múltipla custaram bem menos a fazer que do que a prova oral custou a apresentar. É certo que eram um bocadinho mais difíceis que as das eliminatórias, mas nada de astronomicamente complicado.
O fim das provas deixou-nos a todos bastante aliviados e tinha finalmente chegado a hora de saborearmos os últimos momentos de brincadeira e o ar do campo. Já tinham acabado as avaliações e o nervosismo, e não posso dizer que também tinha acabado a competição porque eu passei o fim de semana sem me lembrar que estava num concurso. Não houve competição. Nenhuma. Só notei que havia companheirismo, vontade de ajudar os outros e desejo que corresse bem a todos, mas nada que se parecesse com competição.
Era altura da feira de experiências. Perante uma enorme lista de actividades que nos foi proposta, escolhi aquela que seria supostamente para fazermos licor. Seria! Porque quando lá chegámos disseram-nos que afinal iríamos fazer pão. E nos não nos fizemos rogados. Arregaçámos as mangas, pusémos o avental e a touca e lá fomos nós, prontos para meter a mão na massa. Chegaram os ingredientes e não nos intimidámos. Uns com mais jeito que outros, é certo, mas todos cheios de vontade de fazer o melhor pão que as terras de Santo Tirso já viram. Exagero ou não, certo é que provamos a nossa “obra de arte” e não estava nada mau, modéstia à parte. E melhor do que o sabor do pão, só mesmo a recordação de uma hora muito bem passada.
A seguir ao almoço estava marcado um colóquio sobre eco-clubes. Tomámos conhecimento àcerca do que são estes grupos e ficou a vontade de um dia, quem sabe, poder vir a fazer parte de um.
Chegou então uma das horas mais aguardadas: a sessão de entrega de prémios. Foi destacado o ambiente fantástico que se estabeleceu entre todos e foi sublinhado que o balanço desta edição é claramente positivo.
Foram chamados todos os finalistas para receberem o diploma de participação e, em seguida, foram conhecidos os resultados para as nossas eleições. Estava destinado que o primeiro prémio a ser entregue seria o do “ambientalista mais colunável” da categoria A.
E surpresa das surpresas! Disseram o meu nome! Eu nem queria acreditar que alguém pudesse ter votado em mim, mas enfim. Acho que alguém teve de me abanar. Mas fiquei bastante contente com este prémio. Honestamente, eu não fui para a Final com o intuito de ganhar nada, e ser reconhecida por pessoas da minha idade, que eu conhecia há menos de 42 horas e que me confiaram o seu voto, teve para mim uma importância tão grande que é muito difícil de traduzir em palavras.
Em seguida foi entregue o do “ambientalista mais convicto” da categoria B ao David Franco de Faro, um dos poucos que vinha de uma terra mais a sul que nós, porque a grande maioria dos participantes era nortenha.
O mais convicto de minha categoria foi o José Pires do Vimioso, distrito de Bragança. O Zé, como fez questão de se apresentar e que eu julgava ser o vencedor da eleição para o mais colunável, falou tanto da sua terra que acho que todos ficámos com a sensação de já conhecer Vimioso, o bar Texas onde se dança a Melanie C aos pulos como se de Heavy metal se tratasse, os professores da EB23 de Vimioso e por aí fora. Um rapaz muito simpático e que ficou na memória de todos, o Zé.
O “ambientalista mais colunável” da categoria B foi o Roberto Ventura de S. João da Pesqueira, distrito de Viseu. O Roberto, para quem teve o prazer de o conhecer, dispensa comentários e ninguém questiona a atribuição deste “título”. O Roberto faz a festa, deita os foguetes, apanha as canas... mas, “É na boa!”, como ele faz questão de dizer em quase todas as frases.
Em seguida, passámos a coisas mais sérias. As Menções Honrosas da minha categoria foram para a Joana Vieira, de Loures, e para a Joana Fragoso, de Macedo de Cavaleiros. A Grande Vencedora foi a Inês Marques, do Porto.
No que à categoria B diz respeito, as Menções Honrosas foram atribuídas ao Manuel Santos, da Golegã, e ao Emanuel Fernandes, de Aveiro. Quanto ao Grande Vencedor, digo-vos que temos todos a honra de pisar o mesmo chão que ele, todos os dias. Pois é, o Pedro Silva, ilustre e veterano nestas lides de participação na Final, representante do nosso Colégio, “arrasou” com a concorrência e arrebatou o tão ansiado prémio, tendo o Colégio, pelo segundo ano consecutivo, alcançado o primeiro lugar nacional nesta categoria.
Agora, fora de brincadeiras: o nosso campeão mereceu atingir este lugar, pelo empenho que mostrou, pelos conhecimentos e, principalmente, pela amizade e pela humildade demonstradas. Parabéns, Pedro!
Quando acabou a sessão de entrega de prémios, começaram as despedidas. E só nós sabemos como foram difíceis. Ditribuímos beijos, abraços, trocámos números de telemóvel e e-mails para cumprir a promessa de nos mantermos em contacto, deixámos sorrisos e, os que recebemos, guardámos com muito cuidado num cantinho especial do coração. Ainda houve tempo para as últimas fotografias, para mais tarde recordar, e depois voltámos aos beijinhos e aos abraços. Tinha chegado a hora de voltarmos às nossas casas.
A Filipa e eu viémos com o professor João Gomes, que fez o favor de nos trazer, depois de ter ido assistir à cerimónia de entrega de prémios. A viagem foi engraçada, uma vez que umas horas de alegre conversa caem sempre bem.
Cheguei a casa completamente de rastos. Parecia que me tinha passado um tanque de guerra por cima.
É certo que o corpo se ressentiu um bocadinho da falta de descanso e andámos meios “zombies” durante uns dias, mas aquilo por que passámos justifica tudo. Acho que toda a gente devia poder passar por uma experiência como esta, pelo menos uma vez na vida.
Sorrio cada vez que penso na Final, no que aprendi com os meus colegas, naquilo que sinto que cresci e nos amigos que ficaram e com quem tenho mantido contacto e vou procurar continuar a manter porque o estabelecimento de laços tão fortes em tão pouco tempo não acontece todos os dias. Tenho a certeza que, na minha vida, houve poucas alturas em que me tenha sentido tão realizada e tão feliz…
E sabem qual é a única coisa que me apraz dizer àqueles que tornaram possível toda esta experiência?...OBRIGADA!
Nota de rodapé:
Só tenho uma reclamação/apelo a fazer: meninas deste país!!!! Raparigas conscientes do nosso Portugal!!!!!Será que não há mais espécimes do sexo feminino com preocupações ambientais???!!! Por onde raio andais vós?!
Digo isto porque, na Final, o número de participantes do sexo masculino excedia o dobro do das meninas. E de certeza que isto não acontece porque nós somos menos inteligentes... Pensem nisso e PARTICIPEM!
Joana Magalhães da Silva
9º A